Cascalvas
Cascalvo é um tipo de trigo branco.
Cascalvos são cavalos de cascos brancos.
Cascalvas são as pedras que em Estremoz ninguém quer.

Nas pedreiras de Estremoz desde a antiguidade que pedras brancas e brilhantes ricas em minúsculos cristais de calcite são extraída do chão fazendo crescer pináculos invertidos e vazios, subtraindo blocos como pirâmides invertidas.

Em alguns sítios já atingiram os 150 metros de profundidade ao longo de dois milénios e crê-se que durante mais três mil anos poderão continuar em alguns sítios até aos 400 metros de profundidade.

A cidade romana de Emérita Augusta a actual Mérida em Espanha, o mosteiro dos Jerónimos em Lisboa e o Centro Cultural do mesmo sitio, estátuas nos jardins do palácio de Versalhes e muitos palácios no médio oriente ou na capital de Brasilia ostentam a alva pedra de Estremoz.

Actualmente uns poucos milhares de operários com a ajuda da mecânica e da energia continuam cortando pacientemente paralelepípedos de toneladas para fatiar e esculpir exportando pelos quatro ventos.

As mesmas tecnologias usadas um pouco por todo o mundo desenham aqui na planicie, ao invés de uma ferida na encosta de uma montanha, pequenas colinas de áridos cubos chamadas de escombreiras.

Nas escombreiras ficam um pouco de todas as pedras: as de menor qualidade, as de veios ou cores menos na moda dos designers ou arquitectos e umas poucas cascalvas.

As cascalvas que ninguém quer, atravessam-se no caminho dos mármores e têm de ser apartadas. Até as natas, uma calda de água branca cheia de pó do corte da pedra, são recolhidas e cuidadas.

Na verdade as cascalvas fizeram toda a viagem que as suas parentes de mármore. Desde os tempos do continente da Pangea, ainda antes dos dinossauros, num movimento de imersão os depósitos sedimentares desceram até às profundidades onde com pressões e temperaturas próximas do manto subterrâneo se transformaram. Lentamente num movimento inverso submergiram surgindo nas encostas dos Alpes Italianos e chamaram-lhes mármores de Carrara ou na planície alentejana e chamaram de mármores de Estremoz.

Mas também surgiram como Branco Banswara na India ou Arabescatto na América do Sul e tantos outros nomes e sítios.
Mas mármores assim tão brancos como em Estremoz são tão raros como inversamente são as cascalvas.
Em Estremoz o Centro de Ciência Viva e em Vila Viçosa a Rota do Mármore do Anticlinal de Estremoz conduzem visitas guiadas ao mundo branco e "ciclópico" alentejano.
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