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Carsoscópio


Em tempos idos uma princesa moura encantada por um rapaz pobre, tanto recusou os pretendentes escolhidos pelo pai que aquele a castigou. O castigo dado, foi de ficar para sempre na gruta onde se escondera e chorar tanto, que os seus grandes olhos iriam derramar eternamente para o rio Alviela, dando de beber a todos os humanos e animais desse lugar.

Não podia imaginar o rei que muitos séculos depois outro rei cristão inauguraria com pompa e circunstancia o aqueduto das lágrimas da sua filha.

Em 1880 o rei D. Luis inaugurou o aqueduto que daria água de beber às gentes e jardins de Lisboa pois que a anterior obra do aqueduto das Águas Livres construído na mesma altura do Palácio de Mafra já resistira ao terramoto de 1755 mas era insuficiente no seu caudal para continuar a saciar o crescimento da cidade.

O rio Alviela nasce nos Olhos de Água.


Mas quais olhos?

Na verdade são dois, a nascente do Alviela e o ressurgimento da ribeira de Amiais.

A ribeira de Amiais a montante desaparece numa gruta e reaparece cerca de 200 metros depois sobre a nascente do rio Alviela.

As águas do Alviela vêm das profundidades, de um dos maiores lençóis freáticos de água potável da Europa, saem ininterruptamente a um caudal maior que a sede da cidade de Lisboa. Um mergulhador já percorreu autónomamente mais de dois quilómetros e atingiu uma profundidade record de mergulho em Portugal de 215 metros.

Só, num futuro longínquo, a tecnologia poderá mostrar até onde chegam na escuridão absoluta essas profundidades.

As duas águas surgem e sobrepõe-se revoltas no inverno e quase não se distinguem. Mas é no verão que se percebe que a ribeira de Amiais que corre à superfície para pouco mais daria que de beber a uma aldeia.

As duas águas choveram semanas ou séculos antes nas serras de Aires e Candeeiros. Furaram e percorreram polges, algares e galerias sob os nossos pés. Moldaram uma paisagem denominada geologicamente de Cársica.

O Carsoscópio, Centro Ciência Viva do Alviela, nos Olhos de Água é uma admirável e assombrosa explicação.

É deslumbrante viajarmos em projecções 3D, aventurarmo-nos em simuladores e caminharmos por exibições estáticas e interactivas.

Estamos depois dos dinossauros e agora entre morcegos muitas rochas e muita água.

Viajamos didática e superficialmente com a tecnologia, nas entranhas da terra.

Como boa e verdadeira experiência multi-sensorial é só: experimentando!

Depois de cerca de 120 minutos de visita saímos e logo ali á frente á luz do sol está a praia fluvial dos olhos de água,

o parque para um piquenique,

e o parque para os pequeninos.

Um trilho quase escondido na berma da estrada, frente às instalações da EPAL, inicia o desafio ao fôlego, às artroses, às vertigens para nos levar atrás dos Olhos de Água e a montante da ribeira de Amiais.

A floresta adensa-se e quase parece um cenário de aventuras

Numa clareira deixaram uma sala de aulas.

As aulas são na natureza viva, antes e além dos ecrãs da tv ou da web.

Entre oliveiras e sobreiros que a idade já esqueceu ficam muitos lugares à sombra para deixar o carro e caminhar sem fazer barulho.