A Carvoeira
Ana Maria deixou os campos e o trabalho da apanha de tomate há trinta anos e desde então faz carvão para a dona Marta em Santana do Mato.

Na companhia do jovem Bruno e do Fernando empilham os restos das lenhas dos abates e das podas dos muitos montados da região.

Mas não são só de sobro ou de azinheiras, também fazem de outras madeiras mais raras como oliveira ou vulgares como pinhos e eucaliptos.
Ordenadamente dentro de grandes fornos os tarôlos, depois de fechada a entrada com tijolos e vedada com uma argamassa barrenta jogam um pequeno fogo que lentamente "coze" a madeira transformando-a em carvão vegetal.

Meia dúzia de dias a cozer e uns poucos menos para arrefecer, com a ajuda ou o atraso do calor e da humidade das estações pode-se abrir a entrada.

A antes dura e clara madeira transformou-se em alguns dias nuns quebradiços lenhos de carvão dentro de uma abobada quente, negra e fumarenta.

Envoltos numa névoa de fino pó, num ar irrespirável e numa luz quase cega, empunham ancinhos e forquilhas e removem em sacas todo o recheio para o exterior.

Mais tarde noutro sitio uma pizza, um frango, uma sardinha, um entrecosto e quantas mais iguarias podem brilhar pela artes do assador, os temperos do chef, a confraternização de amigos, mas não brilham sem o demorado tempo de um bom e negro carvão.

inté...